quinta-feira, 17 de novembro de 2011

História do Motociclismo e da Motocicleta

A Bicicleta
A necessidade sempre moveu o homem para as grandes descobertas. Desde a primeira invenção, que teria acontecido muito antes de Jesus Cristo, até os celulares multifuncionais de hoje em dia, tudo passa mente capciosa do ser humano. Não foi diferente com a motocicleta. A angústia por uma locomoção um pouco mais veloz que o andar fez com que o Conde de Sivrac, em 1790, inventasse o Celerífero, junção das palavras em latim celer (rápido) e fero (transporte). Ele uniu duas rodas do mesmo tamanho por meio de uma pequena tábua de madeira, onde o "condutor" sentava. Embora não fosse de fácil condução, o “veículo” foi sucesso imediato e logo virou mania, especialmente entre os jovens, apesar das dificuldades para apontá-lo na direção desejada.

Celerifero

Entretanto, a corrente majoritária sobre este assunto afirma que o conceito básico da bicicleta é de um alemão, o barão , um oficial florestal. No dia 5 de abril de 1818, ele apresentou o veículo no Jardim de Luxemburgo, em Paris. Neste mesmo ano Drais realizou uma viagem de 36 quilômetros entre as cidades de Beaun e Dijon, a uma velocidade média de 15km/h. Depois da bem sucedida jornada, Drais iniciou a produção para venda das chamadas draisianas.

A Tração
A criatividade, ainda que um tanto excêntrica, seguia em alta no século XIX. Em 1820, o escocês Kirkpatrick McMillan obteve a tração da roda traseira. Foi a partir dessa descoberta que os ciclistas puderam se movimentar sem colocar os pés no chão. Depois de muitos anos, em 1861, os franceses Pierre, um ferreiro, e Ernest Michaux, filho dele, na época com apenas quatorze anos, construíram o velocípede, uma bicicleta com pedais (no formato da de McMillan) adaptados à roda dianteira, iniciando a produção para venda.
A bicicleta já despertava interesse de todo mundo e em 1866, Bin Chun chegou em Paris. O chinês, que já havia percorrido a Inglaterra e a Alemanha atrás de informações da bicicleta, levou suas anotações precisas para “casa” e em apenas três décadas o veículo tornou-se a principal alternativa de transporte na China e na Índia. Um sucesso, mas ainda muito primitiva, era assim que o invento era visto antes das inovações do inglês James Starley. Batizada de Rover, essa bicicleta trazia rodas do mesmo diâmetro, chassi feito em tubos de aço, guidão integrado ao suporte da roda dianteira e os freios eram a tambor. Os pedais, acoplados a uma engrenagem, movimentavam uma corrente de transmissão que gerava a força motriz da roda traseira.
O Pneu
Quando a bicicleta passou a dispor de suas características principais um novo problema precisava ser solucionado: as rodas eram de madeira, ferro ou borracha maciça, comprometendo o conforto e a dirigibilidade. Essa restrição só foi superada em 1887, quando o veterinário escocês John Boyd Dunlop imaginou uma espécie de sobrerroda: um tubo de borracha oco, preso à roda por meio de uma tela de brim e inflado com uma bomba de ar. Nascia o pneu! Na França, os irmãos André e Édouard Miclelin contribuíram para o rápido aperfeiçoamento dos “calçados’.

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John Boyd Dunlop

Enfim, o Motor
Os componentes básicos de uma motocicleta são: duas rodas e um motor. Com as duas rodas em constante evolução, faltava um motor para o nascimento da moto. Na versão norte-americana, o inventor foi Sylvester Howard Roper, nascido nos EUA. Roper criou um sistema de propulsão a vapor em 1869 e, embora muito perigoso, fez sucesso em suas exibições. Muito barulhenta e fedida, ela assustava os cidadãos da época, além do fato de espantar os cavalos que transportavam os poderosos de então.
Em 1895, numa parceria com a poderosa fábrica de bicicletas Pope, Roper desenvolveu uma versão aperfeiçoada da bicicleta a vapor. Na época, as motocicletas com motores a combustão estavam se tornando viáveis, e a experiência de mais de 30 anos credenciava Roper a fazer o mesmo com os propulsores a vapor. Foi quando o excêntrico inventor apresentou um veículo melhor, com mais autonomia, reaproveitando o carvão em um compartimento fechado, que, ao mesmo tempo, reduzia o mau cheiro. Em 1º de junho de 1896, Roper decidiu que seu engenho estava pronto para ser exibido ao público.

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Sylvester Roper steam motorcycle

Foi quando ele partiu para a pista de corrida de Charles River, e desafiou os pilotos de bicicleta a acompanhá-lo. Com 73 anos de idade, Roper conseguiu uma média de 48km/h na pista de madeira, deixando seus adversários para trás. Empolgado, ele tentou uma nova volta rápida para melhorar sua própria marca, foi quando a frente da bicicleta começou a oscilar, jogando Roper para fora da pista já morto. Todos pensavam que o tombo teria o matado, mas um exame feito depois confirmou um infarto fulminante.  
Nota-se já desta época a vontade de competir, mesmo que por motivações financeiras ou científicas. Nessa época cheia de descobertas, os inventos de Roper não foram suficientes para tornar o motor a vapor adequado para mover veículos leves como a motocicleta, mas inspiraram aperfeiçoamentos em locomotivas e navios. A história de Sylvester Roper é verídica, mas a paternidade da invenção da motocicleta é contestada.
O motor de combustão interna prevaleceu desde a sua criação e é um dos pilares na construção da motocicleta. Voltando um pouco no tempo, em 1860, na França, já existia um propulsor de combustão, alimentado por gás e fagulha de combustão interna, criado pelo engenheiro belga Jean-Joseph Étienne Lenoir, que era mais compacto e eficiente que os motores a vapor.
O “Cara”
Entretanto, a história aponta um engenheiro mecânico chamado Gottlieb Wilhelm Daimler como o inventor da motocicleta. Nascido em 17 de marco de 1834, este alemão começou cedo a desenvolver suas invenções na engenharia mecânica. Em 1857, após se formar e depois de trabalhar em alguns lugares pela Europa, inclusive com Lenoir, onde se entusiasmou com os motores de combustão interna, Daimler chegou à alemã Gasmotoren-Fabric Deutz, dirigida pelo famoso engenheiro Nikolaus August Otto. Em 1872, Daimler participou do projeto do motor de combustão interna desenvolvido por Otto, o famoso Ciclo de Otto, que está nos carros até hoje.

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Gottlieb Wilhelm Daimler

O Ciclo Otto de Quatro Tempos: 1 – Admissão: com a    válvula de admissão aberta e a de escape fechada, a mistura de vapor de gasolina e ar entra no cilindro. 2 – Compressão: com ambas as válvulas fechadas, a mistura é comprimida através do movimento de ascendente do pistão. 3 – Combustão: a mistura é detonada através da ação de uma centelha (faísca) produzida pela vela, produzindo uma expansão dos gases que então empurram o pistão para baixo, produzindo trabalho útil. 4 – Escape: com a válvula de admissão fechada e a de escape aberta, ocorre a exaustão dos gases resultantes da explosão. Motores baseados neste ciclo equipam a maioria dos automóveis de passeio atualmente. (Disponível em: www.mecanica.ufrgs.br/mmotor/otto.htm)
Toda essa trajetória de Daimler foi acompanhada pelo seu grande amigo e parceiro de invenções Wilhelm Maybach, que o seguiu por toda a vida. Daimler levou Maybach para trabalhar na Deutz, mas as divergências de pensamento com a diretoria da fábrica começaram a crescer. Em 1881, ele saiu da Deutz e foi estudar na Rússia. Na volta, seu objetivo é convencer Maybach a o acompanhar em sua nova empreitada, o desenvolvimento de motores estacionários movidos a petróleo. A partir daí a dupla começou a produzir motores, a fim de ultrapassar as máximas 200 rotações por minuto conseguidas até então. A base de pesquisa sempre o motor quatro tempos de ciclo Otto, mas com algumas mudanças na ignição.

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Wilhelm Maybach

Depois de muito trabalho, em 1883, Daimler e Maybach pediram a patente de um motor de quatro tempos que atingia 600 rotações por minuto. Otto e a diretoria da Deutz não gostaram nada da idéia, pois este motor era muito semelhante aos modelos que Daimler ajudou a produzir da fabrica alemã, e a disputa da patente foi para os tribunais. A decisão da Corte Federal em favor de Daimler foi fundamental para o surgimento da primeira motocicleta.
Animados com a vitória, Maybach e Daimler construíram um motor batizado de Standuhr, que alcançava 1.2 cavalos de potência e tinha capacidade de fazer um veículo andar. Foi aí que se pensou no biciclo, veículo leve e que e adaptava muito bem a situação, além de ser de fabricação simples e barata. Essa versão da Standuhr ainda passou por uma redução, ficando com 212 cilindradas e 0,5 cavalos de potência, nas mesmas 600 rotações por minuto, sendo rebatizada de Einspur.

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Einspur

A Einspur ainda era difícil de ser conduzida, mas totalmente afinada com o propósito fundamental da dupla de inventores: movimentar o veículo pela força do motor. A Einspur possuía duas rodas laterais para manter o equilíbrio, pois o banco era muito alto e dificilmente alcançava-se o pé no chão. A transmissão era conectada a uma espécie de coroa em dois tamanhos, movimentada por cordões conectados ao guidão.
Com base nesse “veículo com máquina de potência a gasolina ou petróleo”, conforme descrição da patente, Daimler recebeu em 28 de agosto de 1885 a DRP 36423. Na manhã de 10 de dezembro de 1885, Paul Daimler (1869-1945), o filho mais velho de Gottlieb, partiu para três quilômetros de viagem, entre as cidades de Cannstatt e Unterturkheim, a uma velocidade média de 6km.h. Paul não foi muito longe, nem andou muito rápido, mas tornou-se o primeiro motociclista do planeta. (página 24 do livro Motocicleta, do autor Fausto Macieira.)