A necessidade sempre moveu o homem para as grandes descobertas. Desde a primeira invenção, que teria acontecido muito antes de Jesus Cristo, até os celulares multifuncionais de hoje em dia, tudo passa mente capciosa do ser humano. Não foi diferente com a motocicleta. A angústia por uma locomoção um pouco mais veloz que o andar fez com que o Conde de Sivrac, em 1790, inventasse o Celerífero, junção das palavras em latim celer (rápido) e fero (transporte). Ele uniu duas rodas do mesmo tamanho por meio de uma pequena tábua de madeira, onde o "condutor" sentava. Embora não fosse de fácil condução, o “veículo” foi sucesso imediato e logo virou mania, especialmente entre os jovens, apesar das dificuldades para apontá-lo na direção desejada.
Entretanto, a corrente majoritária sobre este assunto afirma que o conceito básico da bicicleta é de um alemão, o barão , um oficial florestal. No dia 5 de abril de 1818, ele apresentou o veículo no Jardim de Luxemburgo, em Paris. Neste mesmo ano Drais realizou uma viagem de 36 quilômetros entre as cidades de Beaun e Dijon, a uma velocidade média de 15km/h. Depois da bem sucedida jornada, Drais iniciou a produção para venda das chamadas draisianas.
A Tração
A criatividade, ainda que um tanto excêntrica, seguia em alta no século XIX. Em 1820, o escocês Kirkpatrick McMillan obteve a tração da roda traseira. Foi a partir dessa descoberta que os ciclistas puderam se movimentar sem colocar os pés no chão. Depois de muitos anos, em 1861, os franceses Pierre, um ferreiro, e Ernest Michaux, filho dele, na época com apenas quatorze anos, construíram o velocípede, uma bicicleta com pedais (no formato da de McMillan) adaptados à roda dianteira, iniciando a produção para venda.
A bicicleta já despertava interesse de todo mundo e em 1866, Bin Chun chegou em Paris. O chinês, que já havia percorrido a Inglaterra e a Alemanha atrás de informações da bicicleta, levou suas anotações precisas para “casa” e em apenas três décadas o veículo tornou-se a principal alternativa de transporte na China e na Índia. Um sucesso, mas ainda muito primitiva, era assim que o invento era visto antes das inovações do inglês James Starley. Batizada de Rover, essa bicicleta trazia rodas do mesmo diâmetro, chassi feito em tubos de aço, guidão integrado ao suporte da roda dianteira e os freios eram a tambor. Os pedais, acoplados a uma engrenagem, movimentavam uma corrente de transmissão que gerava a força motriz da roda traseira.
O Pneu
Quando a bicicleta passou a dispor de suas características principais um novo problema precisava ser solucionado: as rodas eram de madeira, ferro ou borracha maciça, comprometendo o conforto e a dirigibilidade. Essa restrição só foi superada em 1887, quando o veterinário escocês John Boyd Dunlop imaginou uma espécie de sobrerroda: um tubo de borracha oco, preso à roda por meio de uma tela de brim e inflado com uma bomba de ar. Nascia o pneu! Na França, os irmãos André e Édouard Miclelin contribuíram para o rápido aperfeiçoamento dos “calçados’.
John Boyd Dunlop
Enfim, o Motor
Os componentes básicos de uma motocicleta são: duas rodas e um motor. Com as duas rodas em constante evolução, faltava um motor para o nascimento da moto. Na versão norte-americana, o inventor foi Sylvester Howard Roper, nascido nos EUA. Roper criou um sistema de propulsão a vapor em 1869 e, embora muito perigoso, fez sucesso em suas exibições. Muito barulhenta e fedida, ela assustava os cidadãos da época, além do fato de espantar os cavalos que transportavam os poderosos de então.
Em 1895, numa parceria com a poderosa fábrica de bicicletas Pope, Roper desenvolveu uma versão aperfeiçoada da bicicleta a vapor. Na época, as motocicletas com motores a combustão estavam se tornando viáveis, e a experiência de mais de 30 anos credenciava Roper a fazer o mesmo com os propulsores a vapor. Foi quando o excêntrico inventor apresentou um veículo melhor, com mais autonomia, reaproveitando o carvão em um compartimento fechado, que, ao mesmo tempo, reduzia o mau cheiro. Em 1º de junho de 1896, Roper decidiu que seu engenho estava pronto para ser exibido ao público.
Sylvester Roper steam motorcycle
Nota-se já desta época a vontade de competir, mesmo que por motivações financeiras ou científicas. Nessa época cheia de descobertas, os inventos de Roper não foram suficientes para tornar o motor a vapor adequado para mover veículos leves como a motocicleta, mas inspiraram aperfeiçoamentos em locomotivas e navios. A história de Sylvester Roper é verídica, mas a paternidade da invenção da motocicleta é contestada.
O motor de combustão interna prevaleceu desde a sua criação e é um dos pilares na construção da motocicleta. Voltando um pouco no tempo, em 1860, na França, já existia um propulsor de combustão, alimentado por gás e fagulha de combustão interna, criado pelo engenheiro belga Jean-Joseph Étienne Lenoir, que era mais compacto e eficiente que os motores a vapor.
O “Cara”
Entretanto, a história aponta um engenheiro mecânico chamado Gottlieb Wilhelm Daimler como o inventor da motocicleta. Nascido em 17 de marco de 1834, este alemão começou cedo a desenvolver suas invenções na engenharia mecânica. Em 1857, após se formar e depois de trabalhar em alguns lugares pela Europa, inclusive com Lenoir, onde se entusiasmou com os motores de combustão interna, Daimler chegou à alemã Gasmotoren-Fabric Deutz, dirigida pelo famoso engenheiro Nikolaus August Otto. Em 1872, Daimler participou do projeto do motor de combustão interna desenvolvido por Otto, o famoso Ciclo de Otto, que está nos carros até hoje.
Gottlieb Wilhelm Daimler
Toda essa trajetória de Daimler foi acompanhada pelo seu grande amigo e parceiro de invenções Wilhelm Maybach, que o seguiu por toda a vida. Daimler levou Maybach para trabalhar na Deutz, mas as divergências de pensamento com a diretoria da fábrica começaram a crescer. Em 1881, ele saiu da Deutz e foi estudar na Rússia. Na volta, seu objetivo é convencer Maybach a o acompanhar em sua nova empreitada, o desenvolvimento de motores estacionários movidos a petróleo. A partir daí a dupla começou a produzir motores, a fim de ultrapassar as máximas 200 rotações por minuto conseguidas até então. A base de pesquisa sempre o motor quatro tempos de ciclo Otto, mas com algumas mudanças na ignição.
Wilhelm Maybach
Animados com a vitória, Maybach e Daimler construíram um motor batizado de Standuhr, que alcançava 1.2 cavalos de potência e tinha capacidade de fazer um veículo andar. Foi aí que se pensou no biciclo, veículo leve e que e adaptava muito bem a situação, além de ser de fabricação simples e barata. Essa versão da Standuhr ainda passou por uma redução, ficando com 212 cilindradas e 0,5 cavalos de potência, nas mesmas 600 rotações por minuto, sendo rebatizada de Einspur.
Einspur
Com base nesse “veículo com máquina de potência a gasolina ou petróleo”, conforme descrição da patente, Daimler recebeu em 28 de agosto de 1885 a DRP 36423. Na manhã de 10 de dezembro de 1885, Paul Daimler (1869-1945), o filho mais velho de Gottlieb, partiu para três quilômetros de viagem, entre as cidades de Cannstatt e Unterturkheim, a uma velocidade média de 6km.h. Paul não foi muito longe, nem andou muito rápido, mas tornou-se o primeiro motociclista do planeta. (página 24 do livro Motocicleta, do autor Fausto Macieira.)
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